Tocandira Trancelim / Angela Quinto

Tocandira Trancelim é um livro de poemas sobre as relações entre as figuras femininas, a terra e os outros mundos, em diálogo com a cultura indígena e as ancestralidades afrobrasileiras. 
Os poemas estão divididos em dois tomos que se entrelaçam. A partir da experiência da perda, vozes se encontram em sonho, na memória e na poesia. Os dois conjuntos colocam em cena personagens, ritos, cantos mágicos e alucinações. 
“Tocandira” e “Trancelim” são poemas independentes que se relacionam. No primeiro, inspirados por Oyá, cinco poemas partem da morte de um irmão e de lembranças familiares de infância. A voz lírica traça caminhos visionários para refazer o luto e retomar um diálogo capaz de lançar pontes entre o sonho e a realidade, a alucinação e a poesia, a vida e a morte, em uma cosmogonia singular. 
Em “Trancelim”, poema dramático, as vozes das personagens como o estala-língua, a-mais-velha e os não-nascidos perfazem um coro num tempo suspenso, típico dos ritos. Nesta parte do livro, que traz imagens de monotipias da própria autora, o drama deriva para um ritual de comunhão com a terra e com os momentos de passagem entre os mundos. A linguagem dessas vozes explora o trânsito do português com o tupi-guarani e estabelece uma comunicação com entidades e figuras de saber. 
Como observa o poeta e professor Dirceu Villa, na apresentação, “a linguagem aqui é tão desafiadora que a mente busca similaridades no longo repertório da escrita brasileira, com a particularidade sensível da reinvenção de uma língua que se compõe de contribuições dos povos originais, e das matrizes africana e portuguesa, num equilíbrio raro”. 
Os poemas da autora vêm unidos por uma capa única, que agrega os dois volumes. Um terceiro caderno traz o texto de apresentação e os dados técnicos sobre o livro. O livro foi costurado à mão. A impressão dos títulos das capas é feita a partir de tipos móveis. O projeto gráfico é de Sílvia Nastari.
 
Sobre a autora
 
Angela Quinto nasceu e vive em São Paulo. É artista caminhante, transita entre a poesia, artes visuais, performance e psicologia clínica. Tem pós-graduação em Caminhada como Método de Educação e Arte. É autora de A linha entre o chumbo e a flor (2015), Fosse porque fosse (2022), Livru pru kupi’i cumê (2022). Integra a antologia Corpo de terra (2021). Seus poemas visuais estão na revista Txon-Poesia, de Cabo Verde (2021), e Escamandro (2021). Participou das exposições Derivações (2016) e Travessias assimétricas: escrita e movimento (2018) e da performance Ver o poema desmontado (2022).