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O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos / Helena Cunha Di Ciero

O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos / Helena Cunha Di Ciero

"O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos" reúne textos sobre a ausência de uma mãe. O processo da perda se revela uma preparação para a falta, desde o momento em que “tudo virou anúncio do adeus”.

A mãe é uma mulher bonita e bem-humorada, amorosa e sagaz, que com a idade vai acolhendo as transformações do corpo e da mente como um dado da vida. O retrato que aparece é de uma personagem forte, marcante, que ganha nitidez e inteireza ao mesmo tempo que a memória e os afetos se transformam rapidamente.

Aos poucos, os olhos — espelhos da alma — revelam uma opacidade que é, além de sintoma da dor e da limitação, também um sinal de que o sentido da vida, para os que ficam, precisa ser reconstruído. Um dos poemas do livro procura, por meio da palavra poética, refazer a ligação profunda entre mãe e filha, uma ligação indeléval e paradoxal — para sempre desfeita, mas que pode ser reimaginada: “Estamos unidas agora por um outro cordão: a linha do papel”.

Lembrar da mãe é se dar conta de que pequenos hábitos podem revelar um cuidado profundo com a beleza da vida. É o que a narradora do livro perecebe ao relembrar o costume que a mãe mantinha de guardar o cetim de presentes recebidos para compor laços de dádivas futuras: “Um nó de marinheiro que o luto não rouba, costurado com a agulha da memória”.

Além das ações, uma frase espirituosa, uma música ou uma preferência alimentar podem pintar o retrato dessa mulher fascinante. É o que ocorre quando a filha lembra do gosto e da textura do doce de figo, o preferido da mãe, ou os dizeres bem-humorados ligados ao amor e à beleza: “Eu também te amo, mas o importante é que você esteja bem vestida”. Também as canções fazem e refazem os laços afetivos: “A case of you”, de Joni Mitchell, “Coisas da vida”, de Rita Lee, e “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim, estão na trilha sonora dessa relação.

Ao mesmo tempo tocante e vigoroso, O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos é o segundo livro da psicanalista e escritora Helena Cunha Di Ciero. A autora reúne 24 textos que flertam com gêneros como a carta, o diário, a anotação e a cronologia. Sobressaem nesse conjunto os poemas e os textos em que a escrita da autora transforma a prosa em terreno de investigação lírica e memorialística.

É um livro sobre lembrar de alguém que se foi, sobre o tempo e a saudade, sobre se dar conta das perdas, da fragilidade e da finitude. Mas também um livro sobre como a memória é capaz de reorganizar a história de uma vida e recompor o afeto que nunca se perde. Os poemas vão sendo intercalados por seções marcadas pelos meses do ano. Essas marcações de tempo, não lineares, lacunares, mostram como as lembranças e os eventos decisivos não têm hora para acontecer.

  • O que enxerguei quando seus olhos ficaram opacos

    Autora: Helena Cunha Di Ciero

    Editora: Quelônio

    Gênero: Poesia

    ISBN: 978-65-87790-86-2

    Capa: Sílvia Nastari

    Formato: 13 x 20 cm

    Páginas: 68

R$68.00Preço
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