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Concha s.f. casa à deriva / Sara de Melo

Concha s.f. casa à deriva / Sara de Melo

Os poemas de Sara de Melo buscam redefinir nossas percepções sobre casa, corpo e memória. O conjunto explora as possibilidades de tradução e reinvenção da linguagem em contato com o natural e com o orgânico, com a matéria do sonho e com a tensão entre ciência e subjetividade. Também o cenário urbano e as reminiscências familiares compõem essa poética sensível e mutável, em derivas de pensamento e percepção sensorial.

A intenção poética transmuta ideias, imagens e conceitos como tempo, corpo e língua, entendidos como entidades vivas e permeáveis ao mundo sensível. Investiga-se um idioma poético carregado de observação, de interesse científico, mas também de intuição. É uma linguagem capaz de traduzir a língua dos ventos, do sonho das árvores, do sono dos peixes, dos rios voadores, das chuvas, das ondas em arrebentação.

A voz da autora investiga imagens de elementos concretos, de materiais que se revelam mais significativos que sua mera constituição biológica. As tensões entre precisão científica e sensorialidade aparecem na própria constituição de alguns dos poemas, que aderem à linguagem dos verbetes de dicionário, e muitas vezes derivam para a prosa, indicando como há fluidez e ambivalência na maneira como se olha e se traduz o mundo.

É assim que conchas, casulos e nuvens se mostram casas móveis e acompanham os seus próprios corpos, confundindo-se com o mundo. As palavras se mostram capazes de viajar para além dos livros, com o vento, no mapa das nuvens, no sono dos peixes e podem refugiar-se no sonho das árvores.

O livro, que recebeu apoio do FAC-DF (Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal), é dividido em cinco partes: “Concha: s.f. casa à deriva”, “Deriva e outras nuvens”, “Oceanos e outros instantes”, “Esperas e outros cafés” e “Partidas e outros azuis”. Entre as influências destacam-se Manoel de Barros, Emanuele Coccia, Clarice Lispector, Sophia de Mello Breyner Andresen e Gaston Bachelard, além das figuras familiares: cantigas de infância na voz da avó, o café compartilhado à mesa com um tio, o avô a ensinando a assobiar.  

Como diz a escritora e dramaturga Carla Kinzo na apresentação: “Sabendo-se parte da matéria imensa do mundo, este livro inventa, muitas vezes, várias maneiras de dizer matéria, casa, memória, instante, sempre trocando as palavras de lugar, compondo mobílias. Nele, a casa reaparece como nuvens em movimento; a memória, como peixes migrantes; o tempo é o que craquela na parede e as noctilucas, rebrilhos na escuridão”.

A capa e o projeto gráfico, de Sílvia Nastari, foram feitos especialmente para o livro, e lançam mão de desenhos científicos feitos originalmente pelo naturalista italiano Giuseppe Saverio Poli, nascido no século XVIII. Na capa, o desenho de um Nautilus (um molusco marinho) traduz uma das imagens centrais para a poética da autora: o corpo como casa.

 

Sara de Melo é escritora e bióloga. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina e licenciada em Letras pela Universidade Católica de Brasília. Foi professora na UnB e na UFSC. Doutora pela Unicamp em Educação, Linguagem e Arte, com pesquisa relacionada à experimentação em escrita e com a materialidade do livro. É autora do livro Essa casa feita de palavras (Voamundo, 2020) que reúne poemas e monotipias botânicas. Participou de antologias como Corpo de Terra (Quelônio, 2021), dentre outras. Participou do Curso Livre de Preparação de Escritores da Casa das Rosas (CLIPE), São Paulo, nas edições de 2020 (Poesia) e 2021 (Prosa). Tem oferecido oficinas de escrita e realizado residências literárias e artísticas. É editora da Revista Pupa!

  • Concha s.f. casa à deriva

    Autora: Sara de Melo
    Apresentação: Carla Kinzo
    Gênero: Poesia
    Editora: Quelônio / Voamundo
    ISBN: 978-65-88130-03-2
    Páginas: 88
    Formato: 13 x 19 cm
    Preço: R$ 46
     

R$56.00Preço
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